Quando começamos o processo de acreditação internacional pela Joint Commission recebi uma "fácil" tarefa: avaliar o desempenho dos médicos que atuam nas diversas áreas do hospital. O manual descrevia de uma forma genérica grupos de informações que deveriam ser avaliadas, porém sem detalhes sobre como montar e aplicar a avaliação. Para minha surpresa, nenhum dos hospitais já acreditados no Brasil tinha desenvolvido uma ferramenta consistente, pois o manual era novo. Após 2 anos de intensa revisão da literatura e uma série de experimentações, acredito termos desenvolvido ferramenta inédita com capacidade de avaliar o corpo médico sob várias dimensões. Com a ajuda crucial dos médicos Luiz Renato Faoro e Humberto Bolognini Tridapalli foi criada a ADEMED (avaliação de desempenho médico). Este texto tem por objetivo fazer uma introdução a lógica de desenvolvimento e características de aplicação da ferramenta.
O primeiro desafio deste trabalho foi definir e organizar o escopo das dimensões avaliadas. A literatura disponível era extensa, porém sem clareza em relação a prioridade do que deveria ser medido. Como conseguir mapear todos os aspectos da atuação de um grupo tão heterogêneo foi o maior desafio. As dimensões foram escolhidas conforme seu impacto na atuação profissional e interação com o Hospital destes profissionais. Abaixo descrevo de forma resumida as escolhidas:
Cadastro: informação detalhada sobre perfil profissional , documentação legal.
- Atualização e desenvolvimento: participação em treinamentos institucionais, eventos internos e externos de atualização, produção científica.
- Preenchimento do prontuário: aplicação de ferramenta especialmente desenvolvida no HSC com pontuação dirigida pelos principais aspectos do prontuário médico.
- Indicadores de CCIH: avalia adesão às políticas de CCIH, taxas de infecção por procedimentos.
- Comportamental: eventos relacionados ao Serviço de Atendimento ao Cliente, condenações pelo CRM.
- Indicadores de desempenho assistencial: avaliação da adesão às políticas de uso de hemoderivados e profilaxia de tromboembolismo.
- Adesão aos protocolos clínicos: adesão aos protocolos para tratamento de pneumonia domiciliar, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral isquêmico, hemorragia digestiva.
- Mortalidade cirúrgica: específico para grupo de cirurgias de maior risco ou volume no Hospital.
- Avaliação de óbito: análise de adequação da causa mortis com a descrita no atestado de óbito.
- Produção: leva em consideração faturamento, número de cirurgias / procedimentos, número de internações.
- **Ainda foram desenvolvidos indicadores específicos de atuação para as áreas de terapia intensiva, pronto atendimento e anestesia.
Como pode ser percebido o levantamento e aplicação deste grande número de informações não é fácil, porém as informações coletadas conseguem traçar de forma muito clara quais as principais deficiências e virtudes de seu corpo médico. Este trabalho será alvo de futura publicação com mais detalhes sobre os resultados alcançados.