sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Contrariando Michael Porter

Sei que este texto possa ser contrário a quase tudo que tem sido publicado recentemente em desempenho do sistema de saúde, mas me parece importante discordar em alguns aspectos do brilhante professor Porter. É verdade que nossos sistemas de saúde tem se direcionado para a competição de soma zero, sendo este aspecto o principal fator que nos levou a condição atual de queda progressiva no pagamento aos prestadores e foco na redução de custo no curto prazo. Para elucidar,  competição de soma zero é definida quando não é agregado valor ao processo e o menor preço passa a ser a única variável. Isto corrói a qualidade e nutre a ineficiência. Conforme a tese do professor Porter deveríamos migrar para a competição baseada em valor focada nos resultados. Médicos, hospitais, clínicas, prestadores de serviço em saúde deveriam publicar seus resultados e o "mercado' regularia as escolhas conforme o desempenho. Pois bem, vamos aplicar este conceito a relação médico - paciente ou mesmo cliente - prestadores de serviço. O fato é que as escolhas realizadas pelos atores deste mercado levam em consideração não apenas o resultado final do serviço, mas principalmente as relações pessoais criadas ao longo do tratamento. Como medir a eficiência da empatia criada nesta relação tão íntima. É evidente que a relação de confiança desenvolvida transcende apenas o resultado técnico, sendo este muitas vezes um mero detalhe para o desfecho. Vou lembrar os dados de recente pesquisa sobre o maior desejo dos usuários do sistema de saúde nos EUA " Na verdade os pacientes/clientes querem estreitar sua relação com seu médico". Talvez a teoria dos jogos advindas de Schelling e Aumann, base da teoria do professor Porter, precise de algumas adaptações para ser aplicada. O que parece ser essencial é a necessidade de aliar os indicadores de desempenho objetivo a fatores ainda pouco mensuráveis como as relações humanas dos clientes e prestadores. Temos este grande desafio de criar um modelo que una estas informações para que os prestadores de melhor desempenho criem realmente uma competição baseada no valor.

Um comentário:

  1. Prezado Dr. Marcelo.

    A sua colocação sobre a gestão focada nos resultados foi muito bem discutida. Lembrando que o autor citado é americano, e este sempre teve como grande alicerce que a vantagem competitiva somente poderia ser criada basicamente de duas formas, através da liderança em custos ou pela diferenciação, sempre através da competição no mercado. Atualmente existem autores, assim como você, que procuram discutir sobre este assunto dando outro enfoque, alinhando a diferenciação com o baixo custo, trabalhando com os indicadores de desempenho financeiros e não financeiros. Podemos citar autores como Kaplan e Norton (Balanced scorecard), Kim e Mauborgne (Estratégia do Oceano Azul) e Lee (Se Disney administrasse seu hospital), sendo o último muito interessante, por possuir um capitulo exclusivo sobre itens não mensuráveis como o relacionamento interpessoal, que vai de encontro com o que foi mencionado no seu blog. Parabéns pelo texto, este é o paradigma que precisamos quebrar.

    Abraço

    Jefferson Klock – Administrador Hospitalar

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